Haverá o amanhã,
O hoje é um dia atípico,
Dia de frio,
De calor,
De terror,
O dia sem brio.
Amanhã será um novo dia.
Hoje serpentes me rodeiam,
Suas presas são peçonhentas,
Suas mandíbulas já deslocaram,
Elas são capazes de me asfixiar,
Enroscadas em mim,
Querem quebrar-me,
Destroçar-me,
Liquidar-me.
“Hoje”, foram dias de altos e baixos,
No horizontal a infâmia perigosa,
Suas presas devoram,
Sua língua é sua guia,
Ela age com cálculos,
Não tem pressa,
Não chega assustadora,
Vai me envolvendo sem que eu perceba,
Quando quero sair,
Ela está ali,
Envolta aos meus pensares,
Sem dormir,
Apenas esperando à hora de consumir.
Ouço os gritos das hienas,
Elas querem que a serpente me deixe,
Sentem meu cheiro,
Sentem meu gosto ao paladar,
Querem me devorar.
Enrolado sob o peso mordaz da peçonhenta,
Ouvindo os gritos das hienas,
Olho pra cima,
Para o alto,
Mas vejo os abutres,
Vejo os corvos,
Estes querem minar meus olhos,
Bicar meu corpo,
Dilacerar meu coração.
Hoje vai findando os dias de dias,
De anos,
Sinto as tempestades baterem furiosas,
Olho ao largo,
Uma alcateia,
Famintos,
Esperam apenas que a peçonhenta me deixe.
Meus pulmões estão enfraquecidos,
Estou vendo o dia escurecer,
Em pleno meio dia?
É um passamento,
Fraquejar dos que não tem forças,
É o meu lamento,
Minha dor,
Meu horror.
Vejo a mandíbula deslocada na direção da minha cabeça,
Os uivos dos lobos e das hienas,
A chuva perene,
E o dia escuro.
Penso no Transcendente,
Desce o Imanente,
E com um sopro de Sua Boca,
Ele aniquila a Serpente,
Afugenta a alcateia,
Desbarata o plano das hienas,
E o Seu vento sai
levando os corvos e os abutres,
Sei que é o dia amanhecendo,
Tu és Aquele que me pastoreia,
Continuarei dependente de Ti,
Tu pisarás em breve na cabeça da serpente.
“Amanhã será um novo dia...”