terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

ANÁLISE EXEGÉTICA DO CAPÍTULO 4 – APOCALIPSE

Resultado de imagem para apocalipse 4

ANÁLISE EXEGÉTICA DO CAPÍTULO 4 – APOCALIPSE[1]

1 – INTRODUÇÃO



O trabalho que nos dispomos a perquirir em analise é o capítulo quatro do Livro do Apocalipse e o nosso objetivo é podermos entender melhor esse capítulo bem como o contexto geral do Livro.
Procuraremos obter as informações a partir do texto lido (Apocalipse), bem como de comentários de autores que já escreveram a respeito do livro da Revelação e também tentando não olvidar da exposição do ministrante da disciplina Teologia Apocalíptica.
Deixando aclarado que, nossa proposição é investigar o que a Inspiração dessa Escritura trouxe para os dias do apóstolo, bem como o que nos trás para a nossa realidade. O que o Revelador dos mistérios quis dizer a respeito do capítulo quatro, quais são as implicações para os nossos dias.
Iniciaremos a partir da autoria do Livro e prosseguiremos com a datação da Revelação, bem como seguiremos pelos destinatários, propósito, tema e então faremos uma análise do capitulo quatro do Livro do Apocalipse.


2 – AUTORIA E DATA


A autoria do Livro do Apocalipse é de todo conhecida que fora de João. Mesmo no Livro temos a evidencia interna de que a Revelação de Jesus Cristo fora enviada pelo seu anjo e notificada a João seu servo. Temos no próprio Livro quatro citações diretas explicitadas pelo nome de que fora João[2]. É claro que temos algumas pessoas que também chamavam-se João, e como bem nos apresenta Kistemaker (2004, p. 34) entre eles temos João o batizador, João pai do apóstolo Pedro, João Marcos e João que pertencia a família do sumo sacerdote. Como também não podemos jamais esquecer o apóstolo João, filho de Zebedeu e Salomé[3], este apóstolo que era aquele mais aproximado de Jesus, aquele a quem Jesus amava[4]. E é exatamente sobre esse último que todas as evidencias vão se deter[5].
Conforme pesquisado e já conhecido por todos[6], o apóstolo João fora exilado na Ilha de Patmos por Domiciano, Imperador Romano, esse Imperador governou o Império Romano entre os anos 81 – 96 d.C, e fora ele quem deu ordem para enviar a João para a Ilha. E assim nos faz saber Kistemaker (2004, pp. 126, 127):

                               
Essa ilha está localizada umas quarenta milhas a sudoeste de Mileto (At 2015), a qual servia de porto para Éfeso. Ela mede dez milhas de norte a sul e seis de leste a oeste, e consiste de montes que sobem oitocentos pés acima do nível do mar.
Patmos é uma ilha rochosa e vulcânica, para a qual o governo romano, no primeiro e segundo século, bania os exilados. Durante o fim do reinado do imperador Domiciano (81-91), João foi enviado a esta ilha (...) foi banido na qualidade de líder das igrejas na parte ocidental da Ásia Menor. Os romanos perseguiam os cristãos que não reconheciam César como Senhor, mas, sim, Jesus Cristo; os oficiais romanos consideravam João como fomentador da religião cristã. A tradição diz que, depois da morte de Domiciano, seu sucessor, Nerva, liberou João e lhe permitiu regressar a Éfeso.



Assim, temos que João, o apóstolo, também chamado de: o ancião, o teólogo, o evangelista, o discípulo amado, fora o autor[7] do apocalipse, por volta dos últimos anos do Imperador Domiciano, talvez 95 d.C, e que ele estava na Ilha de Patmos.
É claro que estamos falando da autoria humana do Livro, pois que, sabemos claramente que a autoria do Livro de Apocalipse é do próprio Cristo, João apenas escreve o que ouve e vê.


3 – DESTINATÁRIO E PROPÓSITO


O autor do Livro de Apocalipse tem seus destinatários, ele se dirige as sete igrejas da Ásia (Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia) , no entanto, eis que surge uma problemática: Seria apenas as sete igrejas da Ásia que Jesus está se direcionando? É literalmente apenas as sete igrejas da Ásia?
Descordando de forma peremptória com a tese de que a Revelação se restringe apenas as sete igrejas da Ásia, e concorde com a tese de que a Revelação ultrapassa a geografia das sete igrejas e vai além da própria Ásia Menor e todo o Oriente, o Apocalipse é para a Igreja no âmbito generalizado. Como bem nos apresenta Kistemaker (2004, p. 80):


  (...) Só podemos presumir que as igrejas às quais João enviou as cartas são representantes da Igreja Universal de Jesus Cristo (...) O número sete simboliza completude e sugere que Jesus apela para todos os crentes cristãos em todos os lugares e em todas as épocas. A mensagem do apocalipse é para “todos os que ouvem as palavras da profecia deste livro” (22.18). Igualmente, todos quantos lêem e estudam esse livro são chamados bem-aventurados (1.3). E, finalmente, a ordem reiterada, “aquele que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”, é endereçada a todos (...).


Entendemos perfeitamente que, se o Apocalipse fora revelado apenas para o contexto situacional da contemporaneidade da época, e que se tudo se cumprira, não teria porque estudarmos o Apocalipse. Porém, sabendo que esse Livro é de Literatura Apocalíptica e que contém elementos escatológicos, entendemos por fim que é um Livro para ser estudado, analisado por todo o tempo em que estivermos ainda aqui na terra.
É possível que, durante o período em que se passou entre a ascensão de Cristo, as primeiras décadas da Igreja e os momentos finais do Império de Domiciano, a Igreja estivesse sofrendo as aflições e perseguições, bem como um tipo de “fria esperança”, onde passados mais ou menos sessenta anos da ascensão, o Salvador ainda não havia retornado. Parece-nos então que, o propósito da Revelação era fazer os crentes entenderem que o Salvador estava vivo, que estava a par de toda a história e que tinha o controle do principio e fim nas Suas Mãos. E que Ele viria cumprir a Sua Promessa de estabelecer o Seu Reino e de por fim, julgar a Satanás e os seres angelicais caídos, bem como todo aquele que se apartar de Deus.


 O propósito do Apocalipse visa reanimar e confortar os crentes em sua luta contra Satanás e seus correligionários. O livro divulga que, nesse conflito entre Cristo e Satanás, Cristo é o vencedor, e Satanás é o vencido. Ainda quando Satanás e seu exercito deflagrem guerra contra os santos na terra, os quais enfrentam sofrimento, opressão, perseguição e morte, Cristo é vitorioso (...) Portanto, esse livro de consolação dirige a atenção de cada crente para o julgamento do mundo e para a vitória final da Igreja. Ainda que Satanás se oponha à marcha do evangelho e ao crescimento da Igreja no mundo inteiro, seu poder é limitado e eventualmente se deparará com o fim, quando ele e seus agentes forem lançados no lago de fogo (...)[8].



Portanto, entendemos que o Apocalipse não se restringiu apenas aquela época, em que João estava vivendo, mas que se entendeu e se estende até a consumação da história.


4 – COMENTÁRIO (CAPÍTULO 4 – APOCALIPSE)


Depois destas coisas, olhei, e eis que estava uma porta aberta no céu; e a primeira voz que, como de trombeta, ouvira falar comigo, disse: Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer.
 E logo fui arrebatado no Espírito, e eis que um trono estava posto no céu, e um assentado sobre o trono.
E o que estava assentado era, na aparência, semelhante à pedra jaspe e sardônica; e o arco celeste estava ao redor do trono, e parecia semelhante à esmeralda.
E ao redor do trono havia vinte e quatro tronos; e vi assentados sobre os tronos vinte e quatro anciãos vestidos de vestes brancas; e tinham sobre suas cabeças coroas de ouro.
E do trono saíam relâmpagos, e trovões, e vozes; e diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete espíritos de Deus.
E havia diante do trono como que um mar de vidro, semelhante ao cristal.e no meio do trono, e ao redor do trono, quatro animais cheios de olhos, por diante e por detrás.
E o primeiro animal era semelhante a um leão, e o segundo animal semelhante a um bezerro, e tinha o terceiro animal o rosto como de homem, e o quarto animal era semelhante a uma águia voando.
E os quatro animais tinham, cada um de per si, seis asas, e ao redor, e por dentro, estavam cheios de olhos; e não descansam nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, e que é, e que há de vir.
E, quando os animais davam gloria, e honra, e ações de graças ao que estava assentado sobre o trono, ao que vive para todo o sempre,
Os vinte e quatro anciãos prostravam-se diante do que estava assentado sobre o trono, e adoravam o que vive para todo o sempre; e lançavam as suas coroas diante do trono, dizendo:
Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas[9].



Depois destas coisas (v.1)... Meta\ (Preposição, podendo ser traduzido por, em companhia com, em companhia de, junto com, como está acompanhado de um caso acusativo pode ser traduzido por  depois de ou após = depois de)tau=ta (Pronome demonstrativo, usado como adjetivo e substantivo, neste caso, usado como adjetivo = estas)   eiådon (Verbo, Indicativo Aoristo, na voz ativa, literalmente ver, perceber, olhar= ví)...
Afinal, depois de quê? Depois de estas o quê?
João acabara de ter as visões de Apocalipse em referencia a Pessoa que está lhe dirigindo a Revelação. Ele tem a primeira visão que compreende do capítulo primeiro até ao capítulo terceiro. Aqui no capítulo quatro ele começa a ter outras visões. É preciso que se diga que no original não encontramos a palavra coisas como se encontra nas nossas traduções, o texto Sagrado apenas nos traz Depois de estas ou Depois destas (...), e claro que entendemos que ele está referindo-se com estas ou destas as primeiras visões que ele tivera. Na primeira visão ou na primeira parte das visões, em que ele foi arrebatado (1.10). É-nos compreensível que ele está tratando com Depois destas ou de estas, em referencia ao primeiro arrebatamento, ainda que em 1.10 não encontramos a palavra arrebatamento, assim como não encontramos aqui (em 4.2), tanto na primeira parte das revelações, como nessa segunda parte, João nos deixa aclarado que ele estava no Espírito (e)n pneu/mati = em espírito, mas também pode ser traduzido por no espírito bem como pode ser traduzido por pelo espírito, preferimos a tradução pelo Espírito porque nos deixa aclarado que era a ação do Espírito Santo em arrebatar a João, vejamos que a preposição e)n está no dativo, a ação não é de João, ele está sofrendo a ação, no entanto entendemos que esse arrebatamento era uma arrebatamento do espírito de João, assim como Deus arrebatava a Ezequiel no AT [Ez 3.14; 8.1-4; 11.1, 24; 37.1; 43.5; etc], no entanto, é bom lembrarmos que o apóstolo Paulo fora também arrebatado e ele não soubera explicar se no corpo ou fora do corpo [cf. II Co 12.1-4]). Assim temos também que João ouve e vê. Ele ouve uma grande voz detrás dele, como de trombeta (1.10) que se revelara dizendo:


(...) Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro; e o que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pergamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadelfia, e a Laodiceia. E virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi sete castiçais de ouro; E no meio dos sete castiçais um semelhante ao Filho do homem, vestido até aos pés de uma roupa comprida, e cingido pelos peitos com um cinto de ouro. E sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve, e os seus olhos como chama de fogo; E os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha, e a sua voz como a voz de muitas águas. E ele tinha na sua destra sete estrelas; e de sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece. E eu, quando vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o último; E o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno. Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer; O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas.


João fora arrebatado pelo Espírito e teve essa majestosa visão em que nos descreve com cuidadosos detalhes o que viu. É claro que a linguagem humana não é suficiente para dizer com exatidão o que ele viu, mas ele tenta descrever com todo o cuidado e polidez, com tudo o que ele tem de cosmovisão para tentar aproximar, em semelhança, não com exatidão, mas com semelhança o que ele viu. E ele viu o Senhor Ressurreto glorificado, como Aquele que é desde sempre, Aquele que tem o domínio do tempo, Ele é o começo e também é o fim. Ele é o que tem Todo-Poder, Ele é resplandecente, é o que vive e foi morto, mas eis que vive para todo o sempre, ou seja, Ele é o Eterno. Tem as chaves da morte e do inferno. E quer que João escreva as coisas que são e as que vão acontecer depois destas. Começa então a revelar a João as situações dos líderes e das sete igrejas, e é, exatamente depois destas visões e deste arrebatamento que ele entra numa outra dimensão de visões.
Não sabemos quanto tempo durou entre um arrebatamento e o outro, no entanto, certo é que, depois da seqüência das primeiras visões, em complemento com aqueles, mas saindo de uma geografia terrena para uma dimensão celestial, ele diz que viu e eis que estava aberta uma porta no céu... não era mais na dimensão territorial terrenal, mas era diretamente uma porta aberta no céu...(kai idou\ qu/ra h)ne%gme/nh e)n t% ou)ran% = E eis uma porta que foi aberta para dentro no céu = uma porta que foi aberta para entrar dentro, no céu – esse é o sentido da frase), João está agora saindo da terra para entrar diretamente no céu (no terceiro, onde Paulo certamente entrou, na presença do Eterno, do Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo).
Ele, João é instigado por Aquela mesma voz que falara com ele no primeiro arrebatamento. O apóstolo jamais esquecerá Aquela voz, pois que a voz é muito forte, é como de trombeta. A primeira voz fala com João dizendo que é o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Derradeiro. É o que vive e foi morto, mas eis que está vivo para todo o sempre. Não é difícil de entendermos de quem é a voz. Quem foi morto? É claro que é a voz de Jesus. E dessa segunda vez, o Espírito arrebata João[10] e ele ouve a voz inconfundível de Jesus, e essa voz é na verdade uma voz de comando, é uma ordem (Ana/ba = verbo aoristo, voz ativa, modo imperativo – é uma ordem dada ao apóstolo – Sobe aqui. (Ana/+bainw = a¨¨na/ = para cima; bainw=movimento – vem para cima também pode ser uma tradução) João deve obedecer a ordem e sair da terra em direção ao céu. Dar um pulo na direção do céu. Já que ele está no Espírito, pelo Espírito, é só ir, pular, subir para o céu.
Há sem duvidas, como nos apresenta Kistemaker (2004, p. 240) contrastes entre a primeira visão e a segunda visão. Há um contraste entre os membros dessas igrejas que são pessoas que estão ainda sujeitos ao pecado, ainda debaixo de possíveis deficiências espirituais com a indizível e magnânima glória e santidade do Deus inescrutável[11], é o contraste entre os seres terrenais falhos, com o Ser Eterno Perfeito.
Temos também que “... na primeira visão (1.9–3.22), Jesus se revela e endereça às sete igrejas na terra. A segunda visão (4.1–8.1) é dedicada a uma descrição do trono de Deus. Esse trono no céu é o centro do universo e esse é o lugar onde o Cordeiro abre os selos[12]”. Também não podemos deixar de mencionar que “... a mensagem às sete igrejas é direta e relativamente simples, mas a descrição do trono no céu é esboçada em linguagem simbólica, e assim é a abertura dos sete selos (...)[13]”.
A Revelação continua e João nos informa que a Voz Poderosa, Triunfante, é como voz de trombeta. É claro que, a partir das Escrituras Sagradas, entendemos que a Trombeta ao ser tocada, algo extraordinário estava para acontecer. A primeira vez que aparece o som da Trombeta tocando está em Êxodo quando Deus fala com Moisés no Monte Sinai para o povo ouvir. Deus ordena a Moisés a que o povo se santifique, porque Ele vai falar com Moisés diante do povo.


Ao amanhecer do terceiro dia houve trovões e raios, uma densa nuvem cobriu o monte, e uma trombeta[14] ressoou fortemente. Todos no acampamento tremeram de medo. Moisés levou o povo para fora do acampamento, para encontrar-se com Deus, e eles ficaram ao pé do monte. O monte Sinai estava coberto de fumaça, pois o SENHOR tinha descido sobre ele em chamas de fogo. Dele subia fumaça como que de uma fornalha; todo o monte tremia violentamente, e o som da trombeta era cada vez mais forte. Então Moisés falou, e a voz de Deus lhe respondeu[15].


Temos então que, a primeira vez que aparece o som da trombeta, ela vem com a manifestação de Deus em revelar-se ao povo e Ele revelou o Decálogo.
Verificamos também em Josué[16], quando Deus dá o comando a que se toque a trombeta e que gritem com grande grita para que os muros de Jericó caíssem. Também está presente o som da trombeta, ainda que aqui temos os sacerdotes tocando, e em Moisés é um som misterioso que acompanha o grande Deus criador que está se revelando ao seu povo Israel.
Logo temos que o som da trombeta é verificado em vários outros textos bíblicos sempre com o intuito de apresentar algo. Para a questão das festividades, também para convocação do povo do arraial, para saída em direção a Canaã, para sair contra os inimigos, enfim, sempre a trombeta aparece como algo para acontecer. Assim sendo, temos que, para um judeu o som da trombeta representa muito: Revelação (com presença “física” de Deus), para derrubar obstáculos, para irem em direção a Canaã, para sair contra os inimigos, etc. João entendia que o som como que de trombeta apresentava muito para ele, além de automaticamente despertá-lo para uma revelação, a semelhança do que já havia acontecido com Moisés, ainda que nesta Revelação do apóstolo temos que, o som como de trombeta não era outra coisa senão a mesma voz que lhe falara no primeiro arrebatamento pelo Espírito, era a Voz do Próprio Senhor Jesus Cristo. Era uma dimensão profunda de Revelação assim como Deus revelou-se a Moisés, com algo em preponderância no Apocalipse, é que essa Voz e a Voz de Jesus Ressurreto. E essa Voz de Comando dera-lhe uma ordem, e ele fora pelo Espírito para dentro da porta, para o céu, como já mencionamos supra.
João entra então no céu “... e eis que um trono estava posto no céu, e um assentado sobre o trono”. João começa então a descrição do que ele está vendo. Ele vê um trono posto no céu, é todo relevante trazermos a reminiscência que outros servos[17] de Deus também já tiveram visão semelhante. O profeta Isaías também foi agraciado por Deus com a visão do trono:


“(...) eu vi o Senhor assentado num trono alto e exaltado; e a aba de sua veste enchia o templo. Acima dele estavam serafins; cada um deles tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, com duas cobriam o pés e com duas voavam. E proclamavam uns para os outros: “Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória”. Ao som das suas vozes os batentes das portas tremeram, e o templo ficou cheio de fumaça.


A descrição de Isaías é semelhante ao que João descreve. O SENHOR está assentado num trono. É preciso que entendamos que é uma linguagem simbólica, o trono está nos dando uma idéia de governo, de soberano, de rei, de comando. E vejamos que, como João “saiu” da terra para o céu, esse governo, esse soberano, esse comando é o céu, sobre a terra, é sobre tudo e todos. O governo não é um governo humano, mas Um[18] e só tem o governo de tudo. Todas as coisas estão abaixo desse governo. O propósito dessa visão é apresentar a Deus, o Deus Santo, o Deus Todo-Poderoso (pantokra/twr), que está desde sempre e será sempre, como Aquele que governa o universo. Em todos os textos em que verificarmos os autores bíblicos mencionando sobre o trono de Deus é sempre como aquele que reina, que governa, que domina, que julga, que é soberano, está acima de tudo e de todos e que é para sempre[19].
É bom entendermos também uma inferência a Trindade: A voz falando é a voz de Jesus. O Espírito Santo está agindo no arrebatamento de João e o Deus Pai está assentado no trono. É claro que a Trindade está em ação na Revelação.
João não faz uma descrição exata do que vê assentado no trono. Ele diz que “...o que estava assentado era, na aparência, semelhante à pedra jaspe e sardônica...”. Na verdade o apóstolo não consegue outras palavras para descrever. Na sua visão de mundo o que ele consegue aproximar para que outros possam pelo menos tentar imaginar é o que ele usa como as cores de pedras preciosas. O jaspe é uma pedra preciosa de várias cores, como vermelho, amarelo, verde, marrom e a sardônica é “o vermelho encarnado, vermelho laranja ou o castanho avermelhado[20]”, essas pedras era brilhantes, assim temos que o que João viu fora brilhos esverdeado, avermelhado e provavelmente outros brilhos semelhantes ao brilho e cor dessas pedras, mas se detém apenas a essa descrição. Essa descrição também nos revela o quanto é glorioso o nosso Deus, de maneira que sua glória é indizível e também indescritível, impenetrável.
O discípulo amado também vê o arco celeste ao redor do trono. Conforme a aparição do arco pela primeira[21] vez é de todo sabido que fora um sinal de Deus de que não mais destruiria a terra com um dilúvio, e esse sinal era o sinal de um pacto entre Deus e a humanidade. E sempre que as pessoas vissem o sinal saberiam que Deus não mais destruiria a terra por intermédio de um dilúvio, assim, temos aqui talvez uma alusão de que Aquele que está assentado como soberano, é também Aquele que lembra do pacto, é firme no pacto, é fiel no cumprimento de Seus pactos.
Em seqüência ele prossegue afirmando que: “E ao redor do trono havia vinte e quatro tronos; e vi assentados sobre os tronos vinte e quatro anciãos vestidos de vestes brancas; e tinham sobre suas cabeças coroas de ouro”. É possível que tenhamos um cenário de seis tronos divididos aos lados (ao redor) o que nos daria vinte e quatro, e que Silva (s/d, p. 45) nos dá as seguintes informações possíveis:

Os vinte e quatro anciãos” do capítulo em foco, não podem ser anjos: eles entoam o cântico da redenção, como tendo sido redimidos (Ap 5.8-9). É evidente que, em sentido geral, os anjos não são vistos coroados, e nem assentados em tronos. Jesus falou aos seus discípulos que eles n futuro se assentariam sobre “doze tronos” (Mt 19.28). Esses “personagens” misteriosos encontram-se estado de salvação definitiva (vestidos de branco), já possuem o prêmio de sua salvação (coroas de ouro) e participam com autoridade no desenvolvimento da salvação (assentados em tronos). Quem são eles? Há somente um sentido possível: Os doze primeiros anciãos deste turno de vinte e quatro, são “os doze patriarcas” filhos de Israel, que estão ao lado de Cristo, representando todos os remidos da “dispensação da lei” focalizada no Antigo Testamento (cf. Nm 13.2-3; 17.1-6; Hb 8.5 e 9.23). Os outros doze, são “os doze Apóstolos do Cordeiro”, pois em alguns casos eles são chamados de “anciãos” (cf. Fm v.9; 1Pd 5.1; 2Jo v.1 e 9 Jo v.1). Estão ao lado de Cristo, representando todos os remidos da “dispensação da graça” focalizada no Novo Testamento (cf. Mt 19.29; Ap 21.12, 14). Está aqui já o início do cumprimento da promessa do Senhor em (Mt 19.28). Tronos, no primeiro caso, e coroas no segundo (cf. 2Tm 4.8). Provavelmente serão eles os mesmos personagens que se assentarão ao lado de Cristo durante o Milênio (cf. Ap 20.4). (sic).


Não tenho a mesma exatidão na conclusão deste autor, no entanto, acordamos que sejam pessoas, seres humanos que estarão glorificando ao SENHOR já em estado de glorificação. Scofield (2009, p. 1166) vai nos trazer que:


Estes anciãos representam a Igreja. A palavra “ancião” tem importancia eclesiástica (1 Tm 5.17; Tt 1.5). No NT, as coroas são apresentadas exlusivamente como recompensa para os fiéis na Igreja. Os anciãos sentam-se em tronos que estão associados com o trono do juízo de Deus (vv. 2-4; com. 1 Co 6.2,3; 2 Tm 2.12).


E, podemos concluir com as palavras de Kistemaker (2004, p. 248) que está de acordo com a supra-citação: “...os anciãos são de grande importância e de uma hierarquia mais elevada que os anjos. Os vinte e quatro anciãos representam os santos redimidos e, com os anjos e todos os seres viventes, esses anciãos rendem louvores, honra e gloria ao Cordeiro ( 5.12)”.
João volta a mencionar o trono e vai nos trazes que “...saíam relâmpagos, e trovões, e vozes; e diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete espíritos de Deus”. É claro que os relâmpagos, os trovões nos indica a presença inefável, inexplicável, insondável de Deus. Vejamos que na referencia acima mencionada da revelação de Deus a Moisés no monte Sinai, também houve relâmpagos, trovões. A indicação aqui é que Deus está presente. No Sinai temos ainda um espaço terrenal, mas aqui estamos num espaço celestial. Exatamente diante do trono de Deus. O apóstolo informa ainda que existem sete lâmpadas que ardiam que são os sete espíritos de Deus, e aqui precisamos entender que o simbolismo está indicando a plenitude, a completude do Espírito Santo, como bem nos atesta Kistemaker (2004, p.249).  
Ele vê ainda “...um mar de vidro, semelhante ao cristal e no meio do trono, e ao redor do trono, quatro animais cheios de olhos, por diante e por detrás”. Esses seres viventes são semelhantes aos descritos por Ezequiel e Isaías, mais precisamente Isaías, por lá encontramos os seres angelicais sobrevoando e glorificando, louvando a Deus. O louvor é praticamente mesmo, e difere apenas um pouco, pois em Isaías temos: “Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos exércitos; toda a terra está cheia da sua glória[22]”. No apocalipse temos: “Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, e que é, e que há de vir[23]”. Parece-me que a intenção é deixar claro que o Deus Todo-Poderoso é o mesmo de toda a eternidade e que virá julgar.
É de todo também observável que, os anciãos e os animais ou seres angelicais se juntam para glorificarem a Deus num cântico em comum. É bom verificarmos também que enquanto os seres angelicais (os animais) louvavam a Deus pela Sua Santidade, pela Sua Onipotência, e pela Sua Eternidade, os anciãos louvam a Deus pela Sua criação, deixando claro que só o Senhor pode ser Digno de receber gloria, honra e poder. Aqui temos na verdade um cântico de ação de graças.








5 – CONCLUSÃO

O apóstolo João, o teólogo, o ancião, o evangelista, o discípulo amado, já na sua velhice e sofrendo ameaças de morte, segundo a tradição, fora lançado num caldeirão de óleo fervente e[24], não havendo morrido fora então lançado na Ilha de Patmos por ter sido achado pelo imperador Domiciano uma ameaça ao seu governo. Fora lançado como um marginal, mas lá, esse velhinho teve o privilegio dado por Deus de ser arrebatado pelo Espírito Santo e ter ouvido e visto a Revelação de Deus.
O capítulo quatro (e o capítulo cinco) do Livro do Apocalipse ou Revelação nos é apresentado como sendo centro de todo o Livro, o elo de ligação entre a primeira parte do Livro e a segunda parte. Em especial nesse capítulo verificamos a Revelação da Soberania de Deus – Deus está assentado no Trono – como Aquele que é Rei, é o Governo do universo. É o ser indescritível, indizível, insondável, impenetrável. E que é Santo, é o Todo-Poderoso, é o Eterno e Ele é digno “...de receber glória, e honra, e poder...”  porque criou todas as coisas, e por sua vontade são e foram criadas.
Portanto, temos que, nesse capítulo quatro somos confortados e consolados em saber que Deus está no Trono, e que tudo depende dEle, porque tudo está sob o Seu controle, Seu domínio, Sua Soberania.   


                          








 

 


REFERÊNCIAS


HENDRIKSEN, Willian (2004). Comentário do Novo Testamento: João. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
KISTEMAKER, Simon (2004). Comentário do Novo Testamento: Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
SILVA, Severino Pedro da. (s/d). Apocalipse versículo por versículo. Digitalizado por Paulo André. Rio de Janeiro: CPAD.
REGA, Lourenço Stelio. (1995). Noções do Grego Bíblico. 4 ed. São Paulo: Vida Nova.

SCHALKWIJK, Francisco Leonardo. (1998). Coinê Pequena Gramática do Grego neotestamentário. 8 ed. Minas Gerais: CEIBEL.

THE NEW TESTAMENT. (1994) The Greek underlying the English authorized version of 1611. England:  Trinitarian Bible Society.

GINGRICH, F. Wilbur; DANKER, Frederick W. (2000). Léxico do Novo Testamento – Grego Português. São Paulo: Vida Nova.

LUZ, Waldyr Carvalho (2003) Novo Testamento Interlinear. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
SPROUL, R.C.(2002) Os Últimos Dias Segundo Jesus. São Paulo: Editora Cultura Cristã.

http://www2.uol.com.br/biblia/revista/edicao6/shophar1.htm

Bíblia de Estudo Scofield (2009). Almeida Corrigida Fiel. São Paulo: Holy Bible.

Bíblia de Estudo (2000). Nova Versão Internacional. 6. Ed. Rio de Janeiro: Central Gospel







[1] Trabalho apresentado ao professor Pr. Drº Tomé Fernandes da disciplina Teologia Apocalíptica, do Curso de Mestrado em Teologia Bíblica do Novo Testamento, do Programa de Pós-Graduação em Teologia Bíblica do Seminário da JUVEP como pré-requisito obrigatório a obtenção de nota.
[2] Ap 1.1, 4, 9; 22.8
[3] Hendriksen (2004, p. 46)
[4] Jo 13.23; 19.26; 20.2; 21.7,20
[5] É claro que sabemos a respeito da alta critica que encontra problemas em relação à autoria de João, o apóstolo, para o Evangelho, as Cartas e também para o Apocalipse, no entanto, somos aderentes, a partir dos Livros Citados (João, Cartas e Apocalipse), bem como das bibliografias que partilhamos e do testemunho da Igreja Cristã, bem como dos que deram seqüência ao trabalho dos apóstolos, que verazmente o apocalipse é de autoria joanina. 
[6] Pelo menos por aqueles que se detém na busca do conhecimento bíblico do NT.
[7] As evidencias externas também apontam para a autoria de João. Temos que Irineu, que fora discípulo de Policarpo, e este discípulo de João, declara que o autor foi João. Outros tantos também darão testemunho dessa veracidade, como Eusébio, Clemente de Alexandria, Origenes, Justino Martir, Tertuliano, etc. (Hendriksen, 2004, pp. 45-47; 77-79).
[8] Kistemaker (2004, pp. 80-81)
[9] As citações são da Almeida Corrigida Fiel, quando outra for citada, mencionaremos a versão.
[10] Nesse segundo arrebatamento, temos então “O elo central do livro” que “se encontra entre os capítulos 4 e 5. Pois, unem as exortações iniciais do Senhor ressurreto às igrejas (capitulo 2-3) com o trinfo e as punições finais pelo Cordeiro (Capítulos 6-22).” “O Capítulo 4 assevera a autoridade soberana do Deus Criador. Sendo exaltado por quatro criaturas poderosas e os vinte e quatro anciãos que o adoram, o Senhor Deus Todo-Poderoso é Santo, Soberano e Digno de todo louvor. Ele criou todas as coisas, e elas existem por causa da sua vontade graciosa e soberana (Ap 4.11)”. [IBADEP, 2006, p.37].
[11] Mas que se revelou numa linguagem possível de compreensão por parte do ser humano.
[12] Kistemaker (2004, p. 240).
[13] Idem
[14] A palavra utilizada pela LXX para trombeta é a mesma utilizada por João no Apocalipse (sa/lpiggoj= Trombeta  sa/lpigc)
[15] Ex 19.16-29 (NVI).
[16] Josué capitulo 6.
[17][17] Micaías também viu o Senhor assentado no trono (I Re 22.19; II Cr 18.18), Ezequiel (Ez 1.26; 10.1; 43.7), Daniel (Dn 7.9), Estevão (At 7.5,6 – ainda que aqui não seja apresentada a questão do trono, mas há inferência).
[18] No sentido de Deus Triuno.
[19] Cf Sl 9.7; 11.4; 45.6; 47.8; 93.2; 97.2; 103.9; Is 66.1; Lm 5.19, etc.
[20] Kistemaker (2004, p. 245)
[21] Gênesis capítulo 9.
[22] Is 6.3
[23] Ap 4.8
[24] Esse comentário fora de Tertuliano         

_________________
Imagem do Google  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Translate

Arquivo do blog