ANÁLISE EXEGÉTICA DO CAPÍTULO 4 – APOCALIPSE[1]
1 – INTRODUÇÃO
O trabalho que nos dispomos a perquirir em analise é o capítulo quatro do
Livro do Apocalipse e o nosso objetivo é podermos entender melhor esse capítulo
bem como o contexto geral do Livro.
Procuraremos obter as informações a partir do texto lido (Apocalipse),
bem como de comentários de autores que já escreveram a respeito do livro da
Revelação e também tentando não olvidar da exposição do ministrante da
disciplina Teologia Apocalíptica.
Deixando aclarado que, nossa proposição é investigar o que a Inspiração
dessa Escritura trouxe para os dias do apóstolo, bem como o que nos trás para a
nossa realidade. O que o Revelador dos mistérios quis dizer a respeito do
capítulo quatro, quais são as implicações para os nossos dias.
Iniciaremos a partir da autoria do Livro e prosseguiremos com a datação
da Revelação, bem como seguiremos pelos destinatários, propósito, tema e então
faremos uma análise do capitulo quatro do Livro do Apocalipse.
2 – AUTORIA E
DATA
A autoria do Livro do Apocalipse
é de todo conhecida que fora de João. Mesmo no Livro temos a evidencia interna
de que a Revelação de Jesus Cristo fora enviada pelo seu anjo e notificada a
João seu servo. Temos no próprio Livro quatro citações diretas explicitadas
pelo nome de que fora João[2].
É claro que temos algumas pessoas que também chamavam-se João, e como bem nos
apresenta Kistemaker (2004, p. 34) entre eles temos João o batizador, João pai
do apóstolo Pedro, João Marcos e João que pertencia a família do sumo
sacerdote. Como também não podemos jamais esquecer o apóstolo João, filho de
Zebedeu e Salomé[3],
este apóstolo que era aquele mais aproximado de Jesus, aquele a quem Jesus amava[4].
E é exatamente sobre esse último que todas as evidencias vão se deter[5].
Conforme pesquisado e já
conhecido por todos[6],
o apóstolo João fora exilado na Ilha de Patmos por Domiciano, Imperador Romano,
esse Imperador governou o Império Romano entre os anos 81 – 96 d.C, e fora ele
quem deu ordem para enviar a João para a Ilha. E assim nos faz saber Kistemaker
(2004, pp. 126, 127):
Essa
ilha está localizada umas quarenta milhas a sudoeste de Mileto (At 2015), a
qual servia de porto para Éfeso. Ela mede dez milhas de norte a sul e seis de
leste a oeste, e consiste de montes que sobem oitocentos pés acima do nível do
mar.
Patmos
é uma ilha rochosa e vulcânica, para a qual o governo romano, no primeiro e
segundo século, bania os exilados. Durante o fim do reinado do imperador
Domiciano (81-91), João foi enviado a esta ilha (...) foi banido na qualidade
de líder das igrejas na parte ocidental da Ásia Menor. Os romanos perseguiam os
cristãos que não reconheciam César como Senhor, mas, sim, Jesus Cristo; os
oficiais romanos consideravam João como fomentador da religião cristã. A
tradição diz que, depois da morte de Domiciano, seu sucessor, Nerva, liberou
João e lhe permitiu regressar a Éfeso.
Assim, temos que João, o
apóstolo, também chamado de: o ancião, o teólogo, o evangelista, o discípulo
amado, fora o autor[7]
do apocalipse, por volta dos últimos anos do Imperador Domiciano, talvez 95 d.C,
e que ele estava na Ilha de Patmos.
É claro que estamos falando da
autoria humana do Livro, pois que, sabemos claramente que a autoria do Livro de
Apocalipse é do próprio Cristo, João apenas escreve o que ouve e vê.
3
– DESTINATÁRIO E PROPÓSITO
O autor
do Livro de Apocalipse tem seus destinatários, ele se dirige as sete igrejas da
Ásia (Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia) , no
entanto, eis que surge uma problemática: Seria apenas as sete igrejas da Ásia
que Jesus está se direcionando? É literalmente apenas as sete igrejas da Ásia?
Descordando
de forma peremptória com a tese de que a Revelação se restringe apenas as sete
igrejas da Ásia, e concorde com a tese de que a Revelação ultrapassa a
geografia das sete igrejas e vai além da própria Ásia Menor e todo o Oriente, o
Apocalipse é para a Igreja no âmbito generalizado. Como bem nos apresenta
Kistemaker (2004, p. 80):
(...) Só podemos presumir que as igrejas às
quais João enviou as cartas são representantes da Igreja Universal de Jesus
Cristo (...) O número sete simboliza completude e sugere que Jesus apela para
todos os crentes cristãos em todos os lugares e em todas as épocas. A mensagem
do apocalipse é para “todos os que ouvem as palavras da profecia deste livro” (22.18).
Igualmente, todos quantos lêem e estudam esse livro são chamados
bem-aventurados (1.3). E, finalmente, a ordem reiterada, “aquele que tem
ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”, é endereçada a todos (...).
Entendemos
perfeitamente que, se o Apocalipse fora revelado apenas para o contexto
situacional da contemporaneidade da época, e que se tudo se cumprira, não teria
porque estudarmos o Apocalipse. Porém, sabendo que esse Livro é de Literatura
Apocalíptica e que contém elementos escatológicos, entendemos por fim que é um
Livro para ser estudado, analisado por todo o tempo em que estivermos ainda
aqui na terra.
É
possível que, durante o período em que se passou entre a ascensão de Cristo, as
primeiras décadas da Igreja e os momentos finais do Império de Domiciano, a
Igreja estivesse sofrendo as aflições e perseguições, bem como um tipo de “fria
esperança”, onde passados mais ou menos sessenta anos da ascensão, o Salvador
ainda não havia retornado. Parece-nos então que, o propósito da Revelação era
fazer os crentes entenderem que o Salvador estava vivo, que estava a par de
toda a história e que tinha o controle do principio e fim nas Suas Mãos. E que
Ele viria cumprir a Sua Promessa de estabelecer o Seu Reino e de por fim,
julgar a Satanás e os seres angelicais caídos, bem como todo aquele que se
apartar de Deus.
O propósito do Apocalipse visa
reanimar e confortar os crentes em sua luta contra Satanás e seus
correligionários. O livro divulga que, nesse conflito entre Cristo e Satanás,
Cristo é o vencedor, e Satanás é o vencido. Ainda quando Satanás e seu exercito
deflagrem guerra contra os santos na terra, os quais enfrentam sofrimento,
opressão, perseguição e morte, Cristo é vitorioso (...) Portanto, esse livro de
consolação dirige a atenção de cada crente para o julgamento do mundo e para a
vitória final da Igreja. Ainda que Satanás se oponha à marcha do evangelho e ao
crescimento da Igreja no mundo inteiro, seu poder é limitado e eventualmente se
deparará com o fim, quando ele e seus agentes forem lançados no lago de fogo
(...)[8].
Portanto,
entendemos que o Apocalipse não se restringiu apenas aquela época, em que João
estava vivendo, mas que se entendeu e se estende até a consumação da história.
4
– COMENTÁRIO (CAPÍTULO 4 – APOCALIPSE)
Depois destas coisas, olhei, e eis que estava uma
porta aberta no céu; e a primeira voz que, como de trombeta, ouvira falar
comigo, disse: Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem
acontecer.
E logo fui
arrebatado no Espírito, e eis que um trono estava posto no céu, e um assentado
sobre o trono.
E o que estava assentado era, na aparência,
semelhante à pedra jaspe e sardônica; e o arco celeste estava ao redor do
trono, e parecia semelhante à esmeralda.
E ao redor do trono havia vinte e quatro tronos; e
vi assentados sobre os tronos vinte e quatro anciãos vestidos de vestes
brancas; e tinham sobre suas cabeças coroas de ouro.
E do trono saíam relâmpagos, e trovões, e vozes; e
diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete espíritos de
Deus.
E havia diante do trono como que um mar de vidro,
semelhante ao cristal.e no meio do trono, e ao redor do trono, quatro animais
cheios de olhos, por diante e por detrás.
E o primeiro animal era semelhante a um leão, e o
segundo animal semelhante a um bezerro, e tinha o terceiro animal o rosto como
de homem, e o quarto animal era semelhante a uma águia voando.
E os quatro animais tinham, cada um de per si, seis
asas, e ao redor, e por dentro, estavam cheios de olhos; e não descansam nem de
dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, o
Todo-Poderoso, que era, e que é, e que há de vir.
E, quando os animais davam gloria, e honra, e ações
de graças ao que estava assentado sobre o trono, ao que vive para todo o
sempre,
Os vinte e quatro anciãos prostravam-se diante do
que estava assentado sobre o trono, e adoravam o que vive para todo o sempre; e
lançavam as suas coroas diante do trono, dizendo:
Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e
poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas[9].
Depois destas coisas (v.1)... Meta\ (Preposição, podendo
ser traduzido por, em companhia com, em companhia de, junto com, como está
acompanhado de um caso acusativo pode ser traduzido por depois
de ou após = depois de)tau=ta
(Pronome demonstrativo, usado
como adjetivo e substantivo, neste caso, usado como adjetivo = estas) eiådon (Verbo, Indicativo
Aoristo, na voz ativa, literalmente ver,
perceber, olhar= ví)...
Afinal,
depois de quê? Depois de estas o quê?
João
acabara de ter as visões de Apocalipse em referencia a Pessoa que está lhe
dirigindo a Revelação. Ele tem a primeira visão que compreende do capítulo
primeiro até ao capítulo terceiro. Aqui no capítulo quatro ele começa a ter
outras visões. É preciso que se diga que no original não encontramos a palavra coisas como se encontra nas nossas
traduções, o texto Sagrado apenas nos traz Depois
de estas ou Depois destas (...), e
claro que entendemos que ele está referindo-se com estas ou destas as
primeiras visões que ele tivera. Na primeira visão ou na primeira parte das
visões, em que ele foi arrebatado (1.10). É-nos compreensível que ele está
tratando com Depois destas ou de estas, em referencia ao primeiro
arrebatamento, ainda que em 1.10 não encontramos a palavra arrebatamento, assim
como não encontramos aqui (em 4.2), tanto na primeira parte das revelações,
como nessa segunda parte, João nos deixa aclarado que ele estava no Espírito (e)n pneu/mati = em espírito,
mas também pode ser traduzido por no
espírito bem como pode ser traduzido por pelo espírito, preferimos a tradução pelo Espírito porque nos deixa aclarado que era a ação do Espírito
Santo em arrebatar a João, vejamos que a preposição e)n está no dativo, a ação não é de João, ele
está sofrendo a ação, no entanto entendemos que esse arrebatamento era uma
arrebatamento do espírito de João, assim como Deus arrebatava a Ezequiel no AT
[Ez 3.14; 8.1-4; 11.1, 24; 37.1; 43.5; etc], no entanto, é bom lembrarmos que o
apóstolo Paulo fora também arrebatado e ele não soubera explicar se no corpo ou
fora do corpo [cf. II Co 12.1-4]). Assim temos também que João ouve e vê. Ele
ouve uma grande voz detrás dele, como de
trombeta (1.10) que se revelara dizendo:
(...) Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o
derradeiro; e o que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que
estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pergamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a
Filadelfia, e a Laodiceia. E virei-me para ver quem falava comigo. E,
virando-me, vi sete castiçais de ouro; E no meio dos sete castiçais um
semelhante ao Filho do homem, vestido até aos pés de uma roupa comprida, e
cingido pelos peitos com um cinto de ouro. E sua cabeça e cabelos eram brancos
como lã branca, como a neve, e os seus olhos como chama de fogo; E os seus pés,
semelhantes a latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha, e
a sua voz como a voz de muitas águas. E ele tinha na sua destra sete estrelas;
e de sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol,
quando na sua força resplandece. E eu, quando vi, caí a seus pés como morto; e
ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o
último; E o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre.
Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno. Escreve as coisas que tens
visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer; O mistério das
sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete
estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as
sete igrejas.
João
fora arrebatado pelo Espírito e teve essa majestosa visão em que nos descreve
com cuidadosos detalhes o que viu. É claro que a linguagem humana não é
suficiente para dizer com exatidão o que ele viu, mas ele tenta descrever com
todo o cuidado e polidez, com tudo o que ele tem de cosmovisão para tentar
aproximar, em semelhança, não com exatidão, mas com semelhança o que ele viu. E
ele viu o Senhor Ressurreto glorificado, como Aquele que é desde sempre, Aquele
que tem o domínio do tempo, Ele é o começo e também é o fim. Ele é o que tem
Todo-Poder, Ele é resplandecente, é o que vive e foi morto, mas eis que vive
para todo o sempre, ou seja, Ele é o Eterno. Tem as chaves da morte e do
inferno. E quer que João escreva as coisas que são e as que vão acontecer
depois destas. Começa então a revelar a João as situações dos líderes e das
sete igrejas, e é, exatamente depois destas visões e deste arrebatamento que
ele entra numa outra dimensão de visões.
Não
sabemos quanto tempo durou entre um arrebatamento e o outro, no entanto, certo
é que, depois da seqüência das primeiras visões, em complemento com aqueles,
mas saindo de uma geografia terrena para uma dimensão celestial, ele diz que
viu e eis que estava aberta uma porta no
céu... não era mais na dimensão territorial terrenal, mas era diretamente uma porta aberta no céu...(kai idou\ qu/ra
h)ne%gme/nh e)n t% ou)ran% = E eis uma porta que foi aberta para dentro
no céu = uma porta que foi aberta para entrar dentro, no céu – esse é o
sentido da frase), João está agora saindo da terra para entrar diretamente no
céu (no terceiro, onde Paulo certamente entrou, na presença do Eterno, do Deus
Pai e do Senhor Jesus Cristo).
Ele,
João é instigado por Aquela mesma voz que falara com ele no primeiro
arrebatamento. O apóstolo jamais esquecerá Aquela voz, pois que a voz é muito
forte, é como de trombeta. A primeira voz fala com João dizendo que é o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Derradeiro. É
o que vive e foi morto, mas eis que está vivo para todo o sempre. Não é difícil
de entendermos de quem é a voz. Quem foi morto? É claro que é a voz de Jesus. E
dessa segunda vez, o Espírito arrebata João[10]
e ele ouve a voz inconfundível de Jesus, e essa voz é na verdade uma voz de
comando, é uma ordem (Ana/ba = verbo aoristo,
voz ativa, modo imperativo – é uma ordem dada ao apóstolo – Sobe aqui. (Ana/+bainw
= a¨¨na/ = para cima; bainw=movimento – vem para cima também
pode ser uma tradução) João deve obedecer a ordem e sair da terra em direção ao
céu. Dar um pulo na direção do céu. Já que ele está no Espírito, pelo Espírito,
é só ir, pular, subir para o céu.
Há sem
duvidas, como nos apresenta Kistemaker (2004, p. 240) contrastes entre a
primeira visão e a segunda visão. Há um contraste entre os membros dessas
igrejas que são pessoas que estão ainda sujeitos ao pecado, ainda debaixo de
possíveis deficiências espirituais com a indizível e magnânima glória e
santidade do Deus inescrutável[11],
é o contraste entre os seres terrenais falhos, com o Ser Eterno Perfeito.
Temos
também que “... na primeira visão (1.9–3.22), Jesus se revela e endereça às
sete igrejas na terra. A segunda visão (4.1–8.1) é dedicada a uma descrição do
trono de Deus. Esse trono no céu é o centro do universo e esse é o lugar onde o
Cordeiro abre os selos[12]”.
Também não podemos deixar de mencionar que “... a mensagem às sete igrejas é
direta e relativamente simples, mas a descrição do trono no céu é esboçada em
linguagem simbólica, e assim é a abertura dos sete selos (...)[13]”.
A
Revelação continua e João nos informa que a Voz Poderosa, Triunfante, é como
voz de trombeta. É claro que, a partir das Escrituras Sagradas, entendemos que
a Trombeta ao ser tocada, algo extraordinário estava para acontecer. A primeira
vez que aparece o som da Trombeta tocando está em Êxodo quando Deus fala com
Moisés no Monte Sinai para o povo ouvir. Deus ordena a Moisés a que o povo se
santifique, porque Ele vai falar com Moisés diante do povo.
Ao amanhecer do terceiro dia houve trovões e raios,
uma densa nuvem cobriu o monte, e uma trombeta[14]
ressoou fortemente. Todos no acampamento tremeram de medo. Moisés levou o povo
para fora do acampamento, para encontrar-se com Deus, e eles ficaram ao pé do
monte. O monte Sinai estava coberto de fumaça, pois o SENHOR tinha descido
sobre ele em chamas de fogo. Dele subia fumaça como que de uma fornalha; todo o
monte tremia violentamente, e o som da trombeta era cada vez mais forte. Então
Moisés falou, e a voz de Deus lhe respondeu[15].
Temos
então que, a primeira vez que aparece o som da trombeta, ela vem com a
manifestação de Deus em revelar-se ao povo e Ele revelou o Decálogo.
Verificamos
também em Josué[16],
quando Deus dá o comando a que se toque a trombeta e que gritem com grande
grita para que os muros de Jericó caíssem. Também está presente o som da trombeta,
ainda que aqui temos os sacerdotes tocando, e em Moisés é um som misterioso que
acompanha o grande Deus criador que está se revelando ao seu povo Israel.
Logo
temos que o som da trombeta é verificado em vários outros textos bíblicos
sempre com o intuito de apresentar algo. Para a questão das festividades,
também para convocação do povo do arraial, para saída em direção a Canaã, para
sair contra os inimigos, enfim, sempre a trombeta aparece como algo para
acontecer. Assim sendo, temos que, para um judeu o som da trombeta representa
muito: Revelação (com presença “física” de Deus), para derrubar obstáculos,
para irem em direção a Canaã, para sair contra os inimigos, etc. João entendia
que o som como que de trombeta apresentava muito para ele, além de automaticamente
despertá-lo para uma revelação, a semelhança do que já havia acontecido com
Moisés, ainda que nesta Revelação do apóstolo temos que, o som como de trombeta
não era outra coisa senão a mesma voz que lhe falara no primeiro arrebatamento
pelo Espírito, era a Voz do Próprio Senhor Jesus Cristo. Era uma dimensão
profunda de Revelação assim como Deus revelou-se a Moisés, com algo em
preponderância no Apocalipse, é que essa Voz e a Voz de Jesus Ressurreto. E
essa Voz de Comando dera-lhe uma ordem, e ele fora pelo Espírito para dentro da porta, para o céu, como já mencionamos
supra.
João
entra então no céu “... e eis que um trono estava posto no céu, e um assentado
sobre o trono”. João começa então a descrição do que ele está vendo. Ele vê um
trono posto no céu, é todo relevante trazermos a reminiscência que outros
servos[17]
de Deus também já tiveram visão semelhante. O profeta Isaías também foi
agraciado por Deus com a visão do trono:
“(...) eu vi o Senhor assentado num trono alto e
exaltado; e a aba de sua veste enchia o templo. Acima dele estavam serafins;
cada um deles tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, com duas cobriam o pés
e com duas voavam. E proclamavam uns para os outros: “Santo, santo, santo é o
SENHOR dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória”. Ao som das
suas vozes os batentes das portas tremeram, e o templo ficou cheio de fumaça.
A
descrição de Isaías é semelhante ao que João descreve. O SENHOR está assentado
num trono. É preciso que entendamos que é uma linguagem simbólica, o trono está nos dando uma idéia de governo, de soberano, de rei, de comando. E vejamos que, como João “saiu”
da terra para o céu, esse governo, esse soberano, esse comando é o céu, sobre a
terra, é sobre tudo e todos. O governo não é um governo humano, mas Um[18]
e só tem o governo de tudo. Todas as coisas estão abaixo desse governo. O
propósito dessa visão é apresentar a Deus, o Deus Santo, o Deus Todo-Poderoso (pantokra/twr), que está desde sempre e será sempre, como
Aquele que governa o universo. Em todos os textos em que verificarmos os
autores bíblicos mencionando sobre o trono
de Deus é sempre como aquele que reina, que governa, que domina, que julga, que
é soberano, está acima de tudo e de todos e que é para sempre[19].
É bom
entendermos também uma inferência a Trindade: A voz falando é a voz de Jesus. O
Espírito Santo está agindo no arrebatamento de João e o Deus Pai está assentado
no trono. É claro que a Trindade está em ação na Revelação.
João
não faz uma descrição exata do que vê assentado no trono. Ele diz que “...o que estava assentado era, na aparência,
semelhante à pedra jaspe e sardônica...”. Na verdade o apóstolo não consegue
outras palavras para descrever. Na sua visão de mundo o que ele consegue
aproximar para que outros possam pelo menos tentar imaginar é o que ele usa como
as cores de pedras preciosas. O jaspe é uma pedra preciosa de várias cores,
como vermelho, amarelo, verde, marrom e a sardônica é “o vermelho encarnado,
vermelho laranja ou o castanho avermelhado[20]”,
essas pedras era brilhantes, assim temos que o que João viu fora brilhos
esverdeado, avermelhado e provavelmente outros brilhos semelhantes ao brilho e
cor dessas pedras, mas se detém apenas a essa descrição. Essa descrição também
nos revela o quanto é glorioso o nosso Deus, de maneira que sua glória é
indizível e também indescritível, impenetrável.
O
discípulo amado também vê o arco celeste ao redor do trono. Conforme a aparição
do arco pela primeira[21]
vez é de todo sabido que fora um sinal de Deus de que não mais destruiria a
terra com um dilúvio, e esse sinal era o sinal de um pacto entre Deus e a
humanidade. E sempre que as pessoas vissem o sinal saberiam que Deus não mais
destruiria a terra por intermédio de um dilúvio, assim, temos aqui talvez uma
alusão de que Aquele que está assentado como soberano, é também Aquele que
lembra do pacto, é firme no pacto, é fiel no cumprimento de Seus pactos.
Em seqüência
ele prossegue afirmando que: “E ao redor do trono havia vinte e quatro tronos;
e vi assentados sobre os tronos vinte e quatro anciãos vestidos de vestes
brancas; e tinham sobre suas cabeças coroas de ouro”. É possível que tenhamos
um cenário de seis tronos divididos aos lados (ao redor) o que nos daria vinte
e quatro, e que Silva (s/d, p. 45) nos dá as seguintes informações possíveis:
Os vinte
e quatro anciãos” do capítulo em foco, não podem ser anjos: eles entoam o
cântico da redenção, como tendo sido redimidos (Ap 5.8-9). É evidente que, em
sentido geral, os anjos não são vistos coroados, e nem assentados em tronos.
Jesus falou aos seus discípulos que eles n futuro se assentariam sobre “doze
tronos” (Mt 19.28). Esses “personagens” misteriosos encontram-se estado de
salvação definitiva (vestidos de branco), já possuem o prêmio de sua salvação
(coroas de ouro) e participam com autoridade no desenvolvimento da salvação
(assentados em tronos). Quem são eles? Há somente um sentido possível: Os doze
primeiros anciãos deste turno de vinte e quatro, são “os doze patriarcas” filhos
de Israel, que estão ao lado de Cristo, representando todos os remidos da
“dispensação da lei” focalizada no Antigo Testamento (cf. Nm 13.2-3; 17.1-6; Hb
8.5 e 9.23). Os outros doze, são “os doze Apóstolos do Cordeiro”, pois em
alguns casos eles são chamados de “anciãos” (cf. Fm v.9; 1Pd 5.1; 2Jo v.1 e 9
Jo v.1). Estão ao lado de Cristo, representando todos os remidos da
“dispensação da graça” focalizada no Novo Testamento (cf. Mt 19.29; Ap 21.12,
14). Está aqui já o início do cumprimento da promessa do Senhor em (Mt 19.28).
Tronos, no primeiro caso, e coroas no segundo (cf. 2Tm 4.8). Provavelmente
serão eles os mesmos personagens que se assentarão ao lado de Cristo durante o
Milênio (cf. Ap 20.4). (sic).
Não tenho a mesma exatidão na conclusão
deste autor, no entanto, acordamos que sejam pessoas, seres humanos que estarão
glorificando ao SENHOR já em estado de glorificação. Scofield (2009, p. 1166)
vai nos trazer que:
Estes
anciãos representam a Igreja. A palavra “ancião” tem importancia eclesiástica
(1 Tm 5.17; Tt 1.5). No NT, as coroas são apresentadas exlusivamente como
recompensa para os fiéis na Igreja. Os anciãos sentam-se em tronos que estão
associados com o trono do juízo de Deus (vv. 2-4; com. 1 Co 6.2,3; 2 Tm 2.12).
E,
podemos concluir com as palavras de Kistemaker (2004, p. 248) que está de
acordo com a supra-citação: “...os anciãos são de grande importância e de uma
hierarquia mais elevada que os anjos. Os vinte e quatro anciãos representam os
santos redimidos e, com os anjos e todos os seres viventes, esses anciãos
rendem louvores, honra e gloria ao Cordeiro ( 5.12)”.
João
volta a mencionar o trono e vai nos
trazes que “...saíam relâmpagos, e trovões, e vozes; e diante do trono ardiam
sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete espíritos de Deus”. É claro que os
relâmpagos, os trovões nos indica a presença inefável, inexplicável, insondável
de Deus. Vejamos que na referencia acima mencionada da revelação de Deus a
Moisés no monte Sinai, também houve relâmpagos, trovões. A indicação aqui é que
Deus está presente. No Sinai temos ainda um espaço terrenal, mas aqui estamos
num espaço celestial. Exatamente diante do trono de Deus. O apóstolo informa
ainda que existem sete lâmpadas que ardiam que são os sete espíritos de Deus, e
aqui precisamos entender que o simbolismo está indicando a plenitude, a
completude do Espírito Santo, como bem nos atesta Kistemaker (2004, p.249).
Ele vê
ainda “...um mar de vidro, semelhante ao cristal e no meio do trono, e ao redor
do trono, quatro animais cheios de olhos, por diante e por detrás”. Esses seres
viventes são semelhantes aos descritos por Ezequiel e Isaías, mais precisamente
Isaías, por lá encontramos os seres angelicais sobrevoando e glorificando,
louvando a Deus. O louvor é praticamente mesmo, e difere apenas um pouco, pois
em Isaías temos: “Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos exércitos; toda a terra
está cheia da sua glória[22]”.
No apocalipse temos: “Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso,
que era, e que é, e que há de vir[23]”.
Parece-me que a intenção é deixar claro que o Deus Todo-Poderoso é o mesmo de
toda a eternidade e que virá julgar.
É de
todo também observável que, os anciãos e os animais ou seres angelicais se
juntam para glorificarem a Deus num cântico em comum. É bom verificarmos também
que enquanto os seres angelicais (os animais) louvavam a Deus pela Sua
Santidade, pela Sua Onipotência, e pela Sua Eternidade, os anciãos louvam a
Deus pela Sua criação, deixando claro que só o Senhor pode ser Digno de receber
gloria, honra e poder. Aqui temos na verdade um cântico de ação de graças.
5
– CONCLUSÃO
O
apóstolo João, o teólogo, o ancião, o evangelista, o discípulo amado, já na sua
velhice e sofrendo ameaças de morte, segundo a tradição, fora lançado num caldeirão
de óleo fervente e[24],
não havendo morrido fora então lançado na Ilha de Patmos por ter sido achado
pelo imperador Domiciano uma ameaça ao seu governo. Fora lançado como um
marginal, mas lá, esse velhinho teve o privilegio dado por Deus de ser arrebatado
pelo Espírito Santo e ter ouvido e visto a Revelação de Deus.
O capítulo
quatro (e o capítulo cinco) do Livro do Apocalipse ou Revelação nos é
apresentado como sendo centro de todo o Livro, o elo de ligação entre a
primeira parte do Livro e a segunda parte. Em especial nesse capítulo
verificamos a Revelação da Soberania de Deus – Deus está assentado no Trono –
como Aquele que é Rei, é o Governo do universo. É o ser indescritível,
indizível, insondável, impenetrável. E que é Santo, é o Todo-Poderoso, é o
Eterno e Ele é digno “...de receber glória, e honra, e poder...” porque criou todas as coisas, e por sua
vontade são e foram criadas.
Portanto,
temos que, nesse capítulo quatro somos confortados e consolados em saber que
Deus está no Trono, e que tudo depende dEle, porque tudo está sob o Seu
controle, Seu domínio, Sua Soberania.
REFERÊNCIAS
HENDRIKSEN, Willian
(2004). Comentário do Novo Testamento: João. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
KISTEMAKER,
Simon (2004). Comentário do Novo Testamento: Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
SILVA, Severino
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[1] Trabalho
apresentado ao professor Pr. Drº Tomé Fernandes da disciplina Teologia
Apocalíptica, do Curso de Mestrado em Teologia Bíblica do Novo Testamento, do
Programa de Pós-Graduação em Teologia Bíblica do Seminário da JUVEP como pré-requisito
obrigatório a obtenção de nota.
[2] Ap 1.1,
4, 9; 22.8
[3]
Hendriksen (2004, p. 46)
[4] Jo
13.23; 19.26; 20.2; 21.7,20
[5] É
claro que sabemos a respeito da alta critica que encontra problemas em relação
à autoria de João, o apóstolo, para o Evangelho, as Cartas e também para o
Apocalipse, no entanto, somos aderentes, a partir dos Livros Citados (João,
Cartas e Apocalipse), bem como das bibliografias que partilhamos e do
testemunho da Igreja Cristã, bem como dos que deram seqüência ao trabalho dos
apóstolos, que verazmente o apocalipse é de autoria joanina.
[6] Pelo
menos por aqueles que se detém na busca do conhecimento bíblico do NT.
[7] As
evidencias externas também apontam para a autoria de João. Temos que Irineu,
que fora discípulo de Policarpo, e este discípulo de João, declara que o autor
foi João. Outros tantos também darão testemunho dessa veracidade, como Eusébio,
Clemente de Alexandria, Origenes, Justino Martir, Tertuliano, etc. (Hendriksen,
2004, pp. 45-47; 77-79).
[8]
Kistemaker (2004, pp. 80-81)
[9] As
citações são da Almeida Corrigida Fiel, quando outra for citada, mencionaremos
a versão.
[10]
Nesse segundo arrebatamento, temos então “O elo central do livro” que “se
encontra entre os capítulos 4 e 5. Pois, unem as exortações iniciais do Senhor
ressurreto às igrejas (capitulo 2-3) com o trinfo e as punições finais pelo
Cordeiro (Capítulos 6-22).” “O Capítulo 4 assevera a autoridade soberana do
Deus Criador. Sendo exaltado por quatro criaturas poderosas e os vinte e quatro
anciãos que o adoram, o Senhor Deus Todo-Poderoso é Santo, Soberano e Digno de
todo louvor. Ele criou todas as coisas, e elas existem por causa da sua vontade
graciosa e soberana (Ap 4.11)”. [IBADEP, 2006, p.37].
[11] Mas que
se revelou numa linguagem possível de compreensão por parte do ser humano.
[12]
Kistemaker (2004, p. 240).
[13] Idem
[14] A
palavra utilizada pela LXX para trombeta é a mesma utilizada por João no Apocalipse
(sa/lpiggoj= Trombeta sa/lpigc)
[15] Ex
19.16-29 (NVI).
[16] Josué
capitulo 6.
[17][17]
Micaías também viu o Senhor assentado no trono (I Re 22.19; II Cr 18.18),
Ezequiel (Ez 1.26; 10.1; 43.7), Daniel (Dn 7.9), Estevão (At 7.5,6 – ainda que
aqui não seja apresentada a questão do trono, mas há inferência).
[18] No
sentido de Deus Triuno.
[19] Cf Sl 9.7; 11.4; 45.6; 47.8; 93.2;
97.2; 103.9; Is 66.1; Lm 5.19, etc.
[20]
Kistemaker (2004, p. 245)
[21] Gênesis
capítulo 9.
[22] Is 6.3
[23] Ap 4.8